O que é endometriose?

A endometriose é uma doença crônica benigna que pode ser definida quando o tecido de revestimento interno do útero (o endométrio, responsável pela menstruação) localiza-se fora do útero.  Geralmente os focos da doença ocorrem dentro do abdome, no revestimento externo dos órgãos, sendo o local mais comum atrás do útero. 

Há algumas teorias para explicar a origem da doença, além da citada acima. Apesar de existirem discordâncias na literatura médica sobre o assunto, há um consenso entre os especialistas de que a sua origem e progressão está relacionada a múltiplos fatores, dentre eles os genéticos e imunológicos. 

A incidência de endometriose na população feminina é em torno de 10 %, porém apenas 15-30% dessas pacientes desenvolvem a forma profunda.

Sabe-se que a incidência da endometriose é maior nas pacientes que apresentam dor pélvica crônia e infertilidade, chegando a acometer 50% dessa população.

A endometriose acomete as mulheres de forma diferente? 

Existem várias formas e graus de acometimento da doença.

1)  endometriose superficial: quando existem pequenos focos do tecido endometrial no peritônio (a camada de tecido que reveste externamente os orgãos do abdome).

2)  endometriose ovariana: quando existem cistos no ovário com tecido endometrial no interior.

3) endometriose profunda: ocorre quando os focos de endometriose infiltram algum órgão ou estrutura por mais de 5 mm, podendo acometer diversos locais, sendo a parede externa do útero, o intestino, a bexiga e a vagina, os mais comuns.

O que sente a mulher que tem endometriose?

Os principais sintomas causados ​​pela endometriose são dor pélvica crônica, cólica menstrual, dor no ato sexual e infertilidade.

Os sintomas dependem não só do grau de infiltração da doença nos órgãos do abdome, porém também da sensibilidade individual de cada paciente. 

A intensidade da dor ou cólica menstrual não segue uma regra de proporção com a extensão da doença. Algumas pacientes apresentam pequenas lesões e dores muitos fortes, como o inverso também ocorre. 

Por que a endometriose causa dor?

O endométrio é um tecido que descama e sangra todo mês, provocando a mestruação. 

Quando existem focos fora do útero ele também vai descamar e sangrar, provocando irritação no peritônio, que é a camada de revestimento dos órgãos abdominais, provocando dor. 

Independente dessa “mestruação interna”, existe também a reação inflamatória natural do organismo contra esse tecido que está fora do lugar, provocando cicatrização e fibrose, o que também explica dor de algumas pacientes fora do período menstrual.

Quais seriam outros sintomas específicos?

Quando a doença acomete a bexiga, a paciente pode apresentar dor ou ardor ao urinar, principalmente no período menstrual. 

Quando a doença acomete o intestino, pode haver mudança do hábito intestinal e dor retal que também pioram no período menstrual. Em casos mais raros pode ocorrer obstrução do trânsito intestinal.

Qual papel da ultrassonografia no diagnóstico da endometriose?

A ultrassonografia transvaginal é um método excelente devido a acessibilidade e a alta sensibilidade na detecção das lesões, sendo o primeiro passo na investigação da doença. 

A utilização de preparo intestinal não é essencial para o diagnóstico, porém é capaz de aumentar a acurácia do método na detecção de pequenas lesões. Este consiste na utilização de laxantes orais na véspera do exame, permitindo a limpeza do intestino e uma melhor visualização dos orgãos. Esse método é excelente para avaliação do grau e da extensão da doença como também para o planejamento do tratamento cirúrgico.

Qual papel da ressonância magnética no diagnóstico da endometriose?

A Ressonância magnética também tem grande importância na investigação da doença, sobretudo quando há suspeita de lesão fora da pelve ou fora do alcance da visualização da

 sonda endovaginal (por exemplo no diafragma, nas raízes nervosas e no assoalho pélvico. 

Outra indicação seria a presença de endometriomas com características atípicas (aquelas que podem deixar dúvidas se há transformação maligna destes, que ocorre de forma rara). 

               Referências:

• L. P. Chamié, “Ultrasound evaluation of deeply infiltrative endometriosis: technique and interpretation”, Abdom. Radiol.,nov. 2019;
• S. Guerriero et al., “Transvaginal ultrasound vs magnetic resonance imaging for diagnosing deep infiltrating endometriosis: systematic review and meta-analysis”, Ultrasound Obstet. Gynecol., vol. 51, n^o 5, p. 586–595, 2018;

• B. G. Patel, E. E. Lenk, D. I. Lebovic, Y. Shu, J. Yu, e R. N. Taylor, “Pathogenesis of endometriosis: Interaction between Endocrine and inflammatory pathways”, Best Practice and Research: Clinical Obstetrics and Gynaecology, vol. 50. p. 50–60, 2018;
• M. Bazot e E. Daraï, “Diagnosis of deep endometriosis: clinical examination, ultrasonography, magnetic resonance imaging, and other techniques”, Fertility and Sterility, vol. 108, n^o 6. Elsevier Inc., p. 886–894, 01-dez-2017;
• N. P. Johnson et al., “World endometriosis society consensus on the classification of endometriosis”, Hum. Reprod., vol. 32, n^o 2, p. 315–324, 2017.